27 de março de 2012

Aos 84 anos, baiano se forma em direito e já coleciona três diplomas


Ele já trabalhou como agricultor, como técnico em contabilidade, empreendedor na área de comércio, se formou em administração e em pedagogia, mas nunca desistiu do sonho de ser bacharel em direito. Aos 84 anos, o baiano Leur Teixeira realizou esse desejo. No dia 10 de março deste ano ele se formou em direito pela Faculdade Dom Pedro II, em Salvador.

A trajetória até aí foi longa e ele já tem outros projetos pela frente. "Agora vou cursar a pós-graduação em direito trabalhista, ganhei uma bolsa da faculdade e pretendo escrever dois livros: um sobre a minha vida e o outro sobre a violência em Salvador", afirma.

Leur Teixeira nasceu em Ibirataia, no sudoeste da Bahia. Sétimo filho de 12 irmãos, foi somente aos 23 anos que ele cursou o antigo primário e aos 27 concluiu o segundo grau. Nesse período, ele aproveitou as oportunidades e fez dois cursos técnicos, um na área comercial e o outro em contabilidade.

“Sempre gostei muito de ler quando eu aprendi não existia escola pública, tinha que pagar um professor para ir em casa ensinar as crianças. Dos 6 aos 10 anos eu aprendi a ler, escrever e a fazer as quatro operações matemáticas em casa”, lembra.

Quando terminou o curso técnico em contabilidade, Teixeira foi morar no município de Itabuna, na região sul da Bahia, onde abriu um escritório. Aos 30 anos, ele veio para Salvador para trabalhar na área financeira de uma empresa e começou a estudar para realizar o grande sonho da sua vida. “Em 1960 fiz o vestibular pela primeira vez para direito. Foi na Universidade Católica de Salvador (Ucsal), mas não passei”, afirma.

Outras tentativas
Cinco anos depois, ele tentou novamente, desta vez na Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas também não foi aprovado. Em 1971, ainda estudando para passar na seleção para o curso de direito, Teixeira resolveu cursar administração na Ucsal. “Estava me preparando para fazer direito, vi um anúncio sobre o curso de administração da Ucsal e passei em 22º lugar. Fiz o curso em seis anos porque conciliava com o trabalho”, relata. Em seguida, ele fez outro curso técnico, desta vez na área de segurança industrial.

A experiência acadêmica do atual bacharel em direito o levou para sala de aula em alguns cursos técnicos em Salvador, foi aí que ele percebeu a vocação para lecionar e resolveu fazer outra faculdade, a de pedagogia. Com uma pós-graduação, ele se especializou na área dois anos depois de terminar o curso.

O curso de direito não ficou de lado. Apaixonado pelas leis ele considera que ao longo dos anos a experiência nas diversas áreas em que estudou e trabalhou ajudou um pouco a entende-las. “Era um desejo meu cursar direito, sempre achei que tinha vocação para isso”, enfatiza.

A filha caçula de Teixeria, Rosemeire, se orgulha da
trajetória do pai (Foto: Lílian Marques/ G1)

Exemplo

Também incentivado pelas filhas, que já estudavam para fazer vestibular, em 2007 Teixeira fez um teste para cursar a faculdade de direito na instituição Dom Pedro II e foi aprovado. “Eu acho linda a história do meu pai porque ele nunca desistiu de fazer direito”, orgulha-se a filha caçula, Rosemeire Borges Teixeira, 23 anos, estudante de comunicação.

Funcionário da Empresa Baiana de Alimentos (Ebal) há 5 anos, Teixeira começou o trabalho no local como assessor técnico. Há dois anos, quando chegou o período de estagiar, ele pediu para trabalhar na área jurídica da Ebal e foi atendido. Muito querido na empresa, por onde passa o bacharel em direito recebe elogios e é uma inspiração para quem está começando agora. “Acho ele um exemplo. Aos 84 anos se formar em direito, é uma trajetória bonita”, diz o estudante do 9º semestre de direito, Diego Trindade, que trabalha com o colega na assessoria jurídica da empresa.

O presidente da Ebal, Reub Celestino, afirma que mesmo depois de formado o funcionário, que agora se prepara para o teste da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tem lugar garantido no setor jurídico da Ebal. “Ele vai começar uma nova vida como advogado na Ebal. Ele demonstra que a vida não é finita, que aos 84 anos pode-se recomeçar e que a vida é feita de princípios. Considero ele um dos exemplos maravilhosos de vida”, disse.


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