No dia em que foi comemorado o Dia Mundial do
Meio Ambiente, lideranças quilombolas de nove territórios de identidade da
Bahia se reuniram com integrantes do assentamento Terra Vista, no município de
Arataca, Litoral Sul da Bahia, com o objetivo de conhecer o modelo de
agroecologia utilizado no local, que é referência sobre o assunto.
Estiveram presentes representantes dos
Territórios Recôncavo, Extremo Sul, Vitória da Conquista, Sertão Produtivo,
Chapada Diamantina, Velho Chico, Irecê, Baixo Sul, Piemonte Norte do Itapicuru
e Agreste de Alagoinhas. A ação foi realizada pela Companhia de Desenvolvimento
e Ação Regional (CAR), empresa da
Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), através do projeto
Quilombolas.
Segundo o coordenador da Cooperativa de Produção
Agropecuária do Terra Vista, Joelson Ferreira, o terreno onde está localizado o
assentamento era improdutivo e degradado. “Foi a partir da junção de esforços
que permitiu que criássemos toda essa área de produção e reflorestamento. Há 12
anos trabalhamos a questão da agroecologia aliada a educação, pois não basta
apenas plantar um pé de árvore, tem que entender o sistema. Este é o modo de
vida que escolhemos”, disse.
As lideranças quilombolas ouviram a história e
conheceram as ações desenvolvidas no assentamento, como as áreas de produção de
cacau de alta qualidade e de sistema agroflorestal e também o viveiro, e
ficaram encantados.
Marilucia Souza Silva, liderança do Território
Velho Chico, afirmou que sua vontade é que todos de sua comunidade pudessem
conhecer o local. “É importante que todos pudessem ter uma visão mais ampla. Um
lugar sem matanças e sem queimadas é uma riqueza”.
Joelson ressaltou que a principal arma é o
conhecimento. “Para dar certo tem que unir o saber de quem lida com a terra com
a educação técnica. Temos que formar os cidadãos para que eles entendam o
porque de preservar”.
De acordo com o coordenador do Conselho do
Território do Extremo Sul, Benedito dos Santos Quintiliano, o intercâmbio foi
muito importante, pois além da troca de experiências entre as comunidades, eles
puderam conhecer como vive e como se organiza outro movimento. “Até certo
tempo, nós quilombolas, buscávamos resolver nossas questões com a própria
comunidade, mas a partir de interações como essa percebemos que temos
interesses muito semelhantes a outros grupos e que, dessa forma, temos uma só
luta”.
Ainda segundo Benedito, o resultado do encontro
foi muito positivo. “A vontade é sair daqui e replicar o que vimos e ouvimos na
nossa comunidade. Um lugar que serve como exemplo, em que as pessoas buscam a
agricultura familiar ecologicamente sustentável como forma de qualidade de
vida”.
O coordenador do projeto Quilombolas Antônio
Fernando, que também esteve presente no evento, disse que é importante que povos
e comunidades tradicionais construam junto a movimentos autônomos de
trabalhadores rurais, construindo alternativas de articulações que muitas vezes
não ocorrem ao nível institucional. “Esse deve romper no âmbito da agroecologia
com a visão meramente produtivista”.
Terra Vista
As práticas de manejo fazem do assentamento Terra
Vista uma referência em agroecologia, onde desde o ano de 2000 já foram
plantadas mais de 100 mil mudas produzidas no local, fazendo com que cerca de
90% da mata ciliar dos rios Aliança e Lontra que passam pelo local já foram
recuperadas.
Cinquenta e cinco famílias moram no assentamento
e é da terra que tiram seu sustento cultivando produtos sem o uso de
agrotóxicos. Do trabalho com a terra veio a experiência, mas com o conhecimento
é que fez com que adquirissem o modo de lidar com o meio ambiente.
Dois centros educacionais funcionam no
assentamento, oferecendo cursos do ensino fundamental, profissionalizantes e de
nível superior com enfoque na agroecologia. As atividades educacionais no Terra
Vista são em parceria com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária e
com o Governo do Estado.
O Terra Vista conquistou, em 2012, a certificação
orgânica do Instituto Biodinâmico (IBD) para a produção cacaueira. Além disso,
os viveiros também são certificados e constam no cadastro do Mapa.
Texto: Karoline Meira