ESTADOS UNIDOS -
Quando um asteroide explodiu sobre a cidade russa de Chelyabinsk em fevereiro,
quebrando janelas por quilômetros e ferindo mais de mil pessoas, os
especialistas disseram que esse era um evento raro - de uma magnitude que pode
ocorrer apenas uma vez a cada 100 ou 200 anos, em média.
Mas agora uma
equipe de cientistas está a sugerindo que a Terra está mais vulnerável a muitas
outras rochas espaciais como a que caiu em Chelyabinsk do que se pensava
anteriormente. Na pesquisa publicada em dois artigos pela revista “Nature”,
eles estimam que tais quedas podem ocorrer a cada década ou duas.
A perspectiva
“realmente deixa um monte de pessoas desconfortáveis”, disse Peter G. Brown,
professor de física e astronomia da University of Western Ontario, nos Estados
Unidos, e um dos autores dos dois estudos na “Nature”. Um terceiro artigo, de
autoria de cientistas da Academia de Ciências da Rússia, em Moscou, descreve a
explosão em Chelyabinsk e foi publicado pela revista “Science“.
As descobertas
estão ajudando a elevar o tema da defesa planetária - identificar asteroides
perigosos e desviá-los, se necessário - de fantasia de Hollywood a preocupação
do mundo real.
Um comitê das
Nações Unidas vem estudando o assunto há algum tempo, e no próximo mês a
Assembleia Geral da ONU deverá aprovar duas recomendações: a criação de uma
Rede Internacional de Aviso de Asteroides para que os países compartilhem
informações; e um convite para que agências espaciais do mundo inteiro formem
um grupo de consulta de exploração de tecnologias para desviar asteroides.
Estudos espaciais
concluíram que cerca de 95% dos grandes asteroides próximos da Terra, aqueles
que possuem pelo menos um quilômetro de largura, não levam perigo de atingir a
Terra em breve.
- Um quilômetro é
mais do que apenas perigoso - disse Edward T. Lu, ex-astronauta da Nasa que
dirige a Fundação B612, um grupo particular que projeta o lançamento de um
telescópio espacial para encontrar asteroides menores. - Um quilômetro é o tipo
de perigo que levaria ao fim da civilização humana.
O asteroide
Chelyabinsk tinha apenas 18 metros de largura. Com uma velocidade de cerca de
40 mil quilômetros por hora, ele lançou uma onda de energia equivalente a 500
mil toneladas do explosivo TNT. Um asteroide maior, talvez com duas ou três
vezes o diâmetro do asteroide de Chelyabinsk, explodiu sobre a Sibéria em 1908
e estima-se que ele teria lançado uma energia equivalente a 5 ou 15 milhões de
toneladas de TNT, destruindo milhões de árvores.
O projeto do
telescópio B612, que será denominado Sentinela, destina-se a encontrar
asteroides de cerca de 140 metros de largura, e deve encontrar também muitos
que são menores. Lu afirmou que a missão iria custar US$ 450 milhões - US$ 250
milhões para construir a nave espacial e US$ 200 milhões para operá-la por uma
década.
Um asteroide de 140
metros de largura, disse Lu, seria o equivalente a 150 milhões de toneladas de
TNT.
- Você não vai
acabar com a humanidade - afirmou. - mas se tivermos azar, poderia matar 50
milhões de pessoas , ou jogar a economia mundial em colapso durante um século
ou dois.
O ex-astronauta
disse que os astrônomos haviam encontrado apenas de 10 a 20% dos asteroides
deste tamanho próximos da Terra. O projeto Sentinela também deve detectar
muitos asteroides menores, que ainda poderiam ser devastadores.
- Temos apenas
falado dos que poderiam destruir uma grande área metropolitana - toda Nova York
e seus arredores - explicou Lu.
Ele disse que
apenas cerca de 0,5% destes asteroides menores, mais ou menos do tamanho do que
atingiu a Sibéria em 1908, foram encontrados.
Como as pesquisas
de telescópios encontraram apenas alguns deles, Brown e sua equipe estão
investigando o que realmente já atingiu a Terra. Em um dos artigos da revista
“Nature”, eles examinaram dados da Força Aérea Americana a partir das décadas
de 1960 e 1970 e os dados posteriores a partir de sensores que verificam testes
proibidos de armas nucleares no subsolo.
As gravações
capturaram os sons atmosféricas de baixa frequência gerados por cerca de 60
explosões de asteroides. A maioria veio de pequenas quedas, mas os dados
sugerem que os maiores colidem com a Terra com mais frequência do que seria
esperado com base nas estimativas das pesquisas espaciais. Isso poderia
significar que a Terra tem tido azar recentemente, ou que as estimativas sobre
o número de asteroides do tamanho de Chelyabinsk são muito baixas.
- Qualquer um
deles, individualmente, poderíamos passar sem que percebêssemos - afirmou
Brown. - mas quando você pega eles todos juntos, acho que a preponderância da
evidência é que há um número muito maior de objetos desse porte.
Lu declarou que há
mais um motivo para o lançamento de um telescópio para achar asteroides:
- Há indícios de
que o número é maior do que pensamos, mas ainda não sabemos ao certo, e eu acho
que deveríamos descobrir - ressaltou. - Quando descobrirmos quantos existem,
também descobriremos onde eles estão. Poderemos descartar tudo o que
descobrimos se eles não forem nos atingir ou dizer, ‘Ei, nós devemos olhar para
este com mais cuidado'.
Muitas das quedas
de asteroides do porte de Chelyabinsk não poderiam ser evitadas pelo Sentinela.
Ainda assim, os moradores de Chelyabinsk teriam se beneficiado de um aviso na
manhã do dia 15 de fevereiro para que ficassem longe de suas janelas. Com uma
doação de US$ 5 milhões da Nasa, astrônomos da Universidade do Havaí estão
trabalhando na criação de um telescópios para fazer uma varredura do céu para
movimentos rápidos de luz que poderiam ser asteroides se aproximando. Nesse
caso, não haveria tempo de desviá-lo, já que ele iria atingir a Terra em dias
ou semanas, mas daria tempo para um alerta e para evacuação. Esse sistema está
programado para entrar em operação em 2015.