A bordo do ônibus "Circuladô de
Mulé" Intersubjetividades em Trânsito, 41 agricultoras do sul baiano
ganharam mais ânimo e determinação para lutar por uma vida melhor. Durante três
dias, mulheres dos municípios de Arataca,
Pau Brasil, Ibicaraí, Buararema, Uruçuca e Itabuna, tiveram a oportunidade de
conhecer experiências bem-sucedidas de projetos de cozinhas comunitárias,
localizadas em comunidades da Chapada Diamantina.
Foram visitados os projetos das
comunidades de Morrinho de Baixo, Arsênio, Mundo Novo, Quixaba, Pocinho e
Cercado, e a cada quilômetro percorrido
pelo "Circuladô de Mulé", as agricultoras ganhavam mais
força e vontade de vencer. Muitas mais que o incentivo de conquistar uma fonte
de renda, as produtoras encontraram um espaço de diálogo e troca de
experiências.
Promovida pela
Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa da Secretaria de
Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), no âmbito no programa estadual
Vida Melhor, a ação contou com o apoio da Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA).
A iniciativa surgiu da
necessidade de mostrar às comunidades o modo como podem evoluir e trabalhar
suas potencialidades, tendo como base projetos já apoiados pela empresa, por
meio das associações comunitárias, e que têm conseguido se consolidar.
O ponto alto do encontro foi na
comunidade de Pocinho, no município de
Souto Soares, a 477 quilômetros de Salvador, onde a mandioca deu lugar a bolos,
bolochas e beijus, e se tornou a fonte de renda para 52 pessoas que fazem parte
da Associação Comunitária de Pocinho. Uma experiência que deu certo e é a fonte
de sustento para os associados. Mas para chegar até o ‘sucesso’ não foi fácil.
A coordenadora da Cozinha Comunitária de Pocinho, Eva Rosa de
Souza, de 30 anos, explicou que eles trabalharam duro para conquistar o que tem
hoje. “Trabalhamos dentro de uma casa alugada, improvisamos. No começo
cada um trazia alguma coisa de casa, uma panela, uma colher, um pano de prato.
Vendíamos na própria comunidade, nas feiras e depois começamos a correr atrás
das políticas públicas para ajudar no nosso crescimento. Hoje fornecemos para a
merenda escolar e sempre temos grandes encomendas”.
De acordo com a
coordenadora da ação e técnica
da CAR, Maria de Lourdes Schefler, a visita faz parte de um
processo de trabalho que foi iniciado na região sul, que tem como meta
desenvolver atividades que possam gerar renda. “Tivemos reuniões e promovemos
oficinas de diagnóstico com as comunidades, daí surgiu a proposta da instalação
de unidades de processamento ou cozinhas comunitárias, mas o que já existe na
região tem um funcionamento ruim”, disse.
Segundo Maria de
Lourdes, a ideia foi promover um choque de cultura e aprender como se gere um
empreendimento coletivo. “Resolvemos deslocá-las da Região Sul para a Chapada
para que elas percebessem a diferença do ecossistema e ver que, apesar
das dificuldades que essas mulheres enfrentam com tanta seca, existem
empreendimentos que deram certo. As mulheres do sul baiano tem todo o
potencial, mas não aproveitam”.
A agricultora de
Ibicaraí Ivanete Farias dos Santos, de 54 anos, afirma que a experiência foi
enriquecedora. “Dá até um pouco de vergonha, pois estamos vendo que além das
dificuldades semelhantes a de todas nós, elas ainda tem problema com o clima e,
quanto a isso, somos muito abençoadas já que nossa região chove bastante e a
terra dá de tudo”.
Ivanete conta ainda
que ela e mais cinco mulheres já trabalham com produtos derivados do aipim, mas
vendem apenas pequena quantidade em feiras próximas. “Uma vez tivemos uma
grande encomenda, mas depois nos acomodamos e estagnamos. Essa visita nos
incentivou a ter mais garra. Vamos formar um grupo forte de mulheres e também
seremos bem-sucedidas”.
Para Maria do Carmo Tourinho, de 55 anos, produtora rural de Buerarema, todas
as participantes aprenderam uma grande lição. “Somos nós que temos que correr
atrás dos nossos objetivos”. Ela disse também que sempre existiu uma
dificuldade da comunidade de saber como ter acesso as políticas públicas e que
a CAR trouxe esse conhecimento.
Karoline Meira