Dos 465 municípios do Estado de São Paulo, 37 não registram um único
caso de homicídio doloso há pelo menos 11 anos, desde que o atual sistema de
estatística dos crimes foi adotado pela Secretaria da Segurança Pública. Quase
todas são cidades pequenas, com menos de cinco mil habitantes, e muitas se
emanciparam na década de 90. Dados da Secretaria mostram que o índice de
criminalidade nessas localidades é tão baixo que a maioria não tem delegado de
polícia e, em vários casos, nem investigador. O único representante da Polícia
Civil lotado no município é o escrivão.
Em Vitória Brasil, de 1.717 habitantes a 604 km de São Paulo, nunca
aconteceu assassinato desde que a cidade se emancipou, em 1996. De 2001 para
cá, não houve sequer um roubo, apenas um furto de veículo. O delegado e o
investigador são de Jales e só passam na delegacia local uma vez por semana,
geralmente para atender casos de briga ou desentendimento. De acordo com a
assistente administrativa da prefeitura, Rose Friozi, a cidade não tem cadeia, nem
guarda municipal e os dois policiais militares encaminham eventuais casos para
o único escrivão. 'A cidade tem boa estrutura, mas é sossegada', disse.
Ela conta que, no passado, eram comuns furtos de frango ou galinha. 'A
pessoa fazia arroz com frango ou galinhada e convidava o dono da ave para
comer'. Depois que a polícia passou a registrar a ocorrência, até esse tipo de
crime acabou. Em todo o ano passado, foram registrados nove pequenos furtos,
menos de um por mês. Em Pracinha, a 574 km de capital, quase a metade dos 2.863
habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
está na penitenciária estadual - o número de presos é de 1.329, segundo a
Secretaria de Administração Penitenciária. Mesmo assim, além de homicídio zero,
a cidade teve um roubo e uma tentativa em 11 anos. Nunca houve registro de
furto de veículo. Por causa do presídio, a cidade vai ganhar uma delegacia: o
prédio está em obras.
Outras cidades registraram, além de homicídio zero, índices baixíssimos
de crimes violentos nos últimos 11 anos: Marapoama (um roubo); Uru (um roubo);
Parisi (dois furtos de veículos); São João do Pau D''Alho (dois roubos); Nova
Guataporanga (dois roubos) e União Paulista (dois roubos). O município de Barra
do Chapeu registrou índice zero de todos os crimes, mas a reportagem apurou
que, por ser a única cidade do Estado sem delegacia, os crimes - inclusive dois
homicídios ocorridos em 2008 - vêm sendo registrados em Apiaí, cidade vizinha.
Nem sempre o baixo índice de crime tem relação com o pequeno número de
moradores. Borá, a menor cidade do Brasil, a 486 km de São Paulo, tem apenas
805 habitantes, mas já registrou um homicídio em 2004. As outras cidades
paulistas com homicídio zero em 11 anos são Águas de São Pedro, Anhumas, Bento
de Abreu, Borebi, Caiabu, Cruzália, Dirce Reis, Dolcinópolis, Fernão, Gabriel
Monteiro, Jumirim, Lourdes, Monções, Nipoã, Presidente Alves, Quintana,
Ribeirão dos Índios, Rubiácea, Rubineia, Sagres, Salmourão, Santa Mercedes,
Santa Rita do Oeste, Santa Salete, Sebastianópolis do Sul, Trabiju, Turiuba e
Zacarias.
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