11 de março de 2012

Sem-teto deixa a rua para se tornar empresário de sucesso

Depois da tempestade, vem a bonança. É com este ditado popular que Marcelo Ostia, 31 anos, define sua trajetória. Nascido e criado em Itu, interior de São Paulo, hoje ele vive o capítulo de sua vida intitulado felicidade: após perder tudo a ponto de se tornar morador de rua, Marcelo agora é empresário.

“Quando nasci, levei um corte na cabeça durante a cesariana. A cicatriz está aqui para provar que minha vida já seria diferente”, conta o empresário que, aos 19 anos pegou sua primeira rescisão contratual e investiu num computador, scanner e impressora. “Assim montei o serviço de cópia 24 horas, onde tudo começou e os visinhos apareciam de madrugada para aproveitar”, relembra.

Nesta época, ele conheceu um cliente que vendia camisetas, mas não sabia personalizá-las. Marcelo então ofereceu seus serviços. “Não fazia ideia de como personalizar, mas, como este cliente comprou minha ideia, tive que aprender a fazer isso sozinho, de uma hora para outra”, diz. Eles começaram a trabalhar produzindo camisetas para formandos, comprando a matéria prima na capital paulista.

Dificuldades
Foi neste momento que a vida de Marcelo se transformou completamente. “O fornecedor sempre recebia o pagamento adiantado e, num belo dia, desapareceu com nosso dinheiro”, explica. Ele deixou a família e a namorada para trás e seguiu com um amigo para São Paulo, na tentativa de encontrar o fornecedor.

A dupla chegou na capital com apenas R$ 50 no bolso. O homem que lhe aplicou o golpe nunca foi encontrado, porém Marcelo conheceu um empresário do ramo de camisetas, que estava buscando alguém para personalizar as peças. “Aproveitei a oportunidade, mas só tinha aquele dinheiro para sobreviver e para comprar as tintas”, conta. Naquela noite, em 2004, ele foi num hotel barato para tomar banho e comer alguma coisa. Sobrou apenas R$ 18.

“Eu sabia que em 30 dias teria um pagamento, mas não imaginava como sobreviveria até lá”, recorda. Marcelo alugou uma garagem num estacionamento a céu aberto para fugir da violência das ruas. “Eles aceitaram receber depois, então ali eu dormia e deixava minhas coisas”, diz. Durante quase quatro meses ele sobreviveu tomando banho na rua, usando roupas velhas e rasgadas, comendo o que fosse possível.
Perseverança
E a vida do empresário mudou mais uma vez. Enquanto caminhava por São Paulo, um caminhão com um grupo de voluntários distribuía roupas e alimentos aos moradores de rua. “O rapaz do caminhão me chamou, entregou uma camiseta e eu aceitei. Foi ai que percebi como eu estava sujo e barbudo”, relata.

Nesta época ele conheceu uma família muçulmana que o tirou das ruas. “Fui criado num regime racista e acabei morando com uma muçulmana negra, foi ela que me estendeu a mão quando mais precisei”, diz. Dela, ele recorda apenas dos olhos, pois a mulher utilizava burca, como a religião dela determinava.

Dias melhores
Marcelo começou a ter condições de visitar a família em Itu e voltar para São Paulo. Foi então que sua namorada ficou grávida e ele resolveu largar tudo e voltar para o interior Paulista. Novamente em Itu, ele passou dificuldades, mas conseguiu utilizar sua experiência para montar um site para vender camisetas. “Foi tudo bem simples e passei o dia 31 de dezembro de 2005 cadastrando todas as peças”, comenta.

Desde então, Marcelo casou-se com Andreia de Aquino, 27 anos e tem duas filhas: Nathaly de seis anos e Alana, de três. “Minha mulher nunca deixou de acreditar em mim, jamais pensou em me abandonar. Ela é tudo para mim”, confessa o empresário que hoje possui um site próprio e 350 microfranquias espalhadas pelo mundo, que revendem as Camisetas Da Hora.

Em Itu, a sede da empresa gera cerca de 20 pessoas. “Tudo tem o seu momento, eu cheguei ao fundo do poço para aprender o que é viver, o que ser humano e, acima de tudo, o que é ser humilde. Nasci novamente e agora dou valor a tudo na vida. Não me arrependo de nada, pois tudo tem o seu momento. É gratificante olhar por tudo o que passei e ver que sou exemplo para outras pessoas e para eu mesmo”, conclui.

Adriane Souza Do G1 Sorocaba e Jundiaí

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