Um grupo de 41 mulheres vindas das
comunidades rurais dos municípios de Ibicaraí, Arataca, Buararema, Uruçuca, Pau
Brasil e Itabuna, no sul baiano, viajou mais de 600 quilômetros até o município
de Souto Soares, na região da Chapada Diamantina, para conhecer experiências
bem-sucedidas de projetos de cozinhas comunitárias que vêm sendo desenvolvidos
em distritos como Mundo Novo e Pocinho.
A visita foi organizada por técnicos
da CAR (Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional), empresa da Secretaria de
Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), no âmbito do programa estadual
Vida Melhor, e teve a participação de representantes da EBDA (Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola).
O bjetivo é fomentar ações de
desenvolvimento regional e combate à pobreza rural em comunidades rurais que
ainda não tiveram a oportunidade de desenvolver atividades que possam se
constituir em alternativas para a geração de renda e comercialização da
produção local.
O ônibus "Circuladô de
Mulé" Intersubjetividades em Trânsito/Vida Melhor - é uma iniciativa da
CAR, com enfoque de gênero, que surgiu da necessidade de mostrar às comunidades
o modo como podem evoluir e trabalhar suas potencialidades, tendo como base
projetos já apoiados pela empresa, por meio das associações comunitárias, e que
têm conseguido se consolidar.
Mais do que uma referência e
incentivo para que as comunidades alcancem desenvolvimento e cidadania, a ideia
do “Circuladô de Mulé”, do Vida Melhor, quer criar, cada vez mais,
espaços de diálogo e intercâmbio de experiências, ligando e aproximando
populações das áreas mais distantes da zona rural baiana.
Dona Valdeir Rosa dos Anjos, 60, do
distrito de Mundo Novo, em Souto Soares, que abraçou a ideia do projeto e fez
os primeiros contatos com as mulheres da localidade, conta que todas esperaram
pelos homens, mas que nada acontecia. “Pensamos: já que os homens nada
fazem, vamos montar uma associação, e corremos para fundar. Fomos,
inicialmente, para o povoado de Mulungu, buscar associadas e a gente só levava
porta na cara”, disse.
Ela lembra que foi feita a primeira
reunião e que, em Souto Soares, fizeram contato com a EBDA. Depois que
conseguiram fundar a associação, chegou o projeto de cisternas, implantado pela
CAR, e o projeto de cozinha comunitária. “O início não foi fácil, a gente tinha
que sair para Salvador e outras cidades, participando de feiras de agricultura
familiar e levando nossos produtos. Agora, estamos felizes, porque conseguimos
a vitória”, confessou, aliviada, ressaltando que, antes, dormiam até no chão,
na chuva, e nas barracas, em algumas cidades onde não tinham onde ficar. “Mas,
graças a Deus, vencemos”, completa.
Já Maria Rita Alves Neta, 40, também
integrante da Associação de Mundo Novo, disse que para formar um grupo de 14
mulheres, as primeiras associadas tiveram que ir às comunidades vizinhas,
porque as mulheres do distrito não acreditavam em suas capacidades. “Na região,
não havia nenhum projeto, e passamos por um período de descrença. Aos poucos,
começamos a vender e buscar outras alternativas de comercialização”.
Hoje, a comunidade de Mundo Novo
desfruta de uma organização que permite às associadas trabalharem poucos dias
ao mês, com possibilidade de desenvolver outras atividades, e ainda obterem
renda. “No ano passado, trabalhávamos 10 dias por mês e, cada grupo, agora
trabalha só três dias no mês. Já fizemos até 12.145 pães só para entrega. Cada
uma ganha R$ 80,00 por dia”, informou Maria Rita.
Ela conta que com a chegada das
máquinas de produção, o trabalho que era feito manualmente se tornou mais
fácil. “Fizemos dois grupos, somos 17 pessoas, 9 em um e 7 no outro, e
produzimos de forma alternada. Já temos o dia certo do mês para trabalhar.
Hoje, por causa das máquinas fazemos tudo em um dia”, explicou.
Para levantar a primeira construção,
as associadas lembram que carregavam tijolos, barro e água nas carroças.
“Fizemos os tijolos aqui mesmo. Tudo com recursos próprios e ajuda da
prefeitura na sede. Adquirimos o maquinário e tomamos empréstimo com o Banco do
Nordeste "Não tem um centavo aqui que não tenha sido com o nosso suor,
para construir esse primeiro cômodo”, acrescentou, orgulhosa, Dona Valdeir.
Outros projetos
Na última segunda-feira, o “Circuladô
de Mulé” desembarcou no povoado de Morrinhos de Baixo, em Souto Soares, onde as
trabalhadoras rurais puderam conhecer o projeto de produção de polpa de frutas
(maracujá, manga, umbu e araçá, entre outras) e de biscoitos de goma, bolos de
aipim e iguarias diversas fabricadas pela comunidade. Lá, puderam perceber
como, mesmo numa paisagem marcada pela seca, solo hostil e clima muito quente,
a associação local pôde vencer desafios e desenvolver suas capacidades.
A produção atende programas como o
PAA (Plano de Aquisição de Alimentos) e o PNAE, fornecendo alimentos para a
merenda escolar e, mesmo fora de período de contrato, as associadas garantem a
autonomia da atividade, abastecendo mercados como lanchonetes, feiras, supermercados
e outros pontos comerciais.
O grupo também visitou o projeto de
horta comunitária do povoado de Arsênio. No local, são cultivados apenas
produtos orgânicos e até os inseticidas usados na plantação são naturais, a
exemplo da manipueira e da urina do gado.
Além da visita a projetos
considerados de êxito, as agricultoras participaram, na sede da Prefeitura de
Souto Soares, de uma Capacitação para a
construção da autonomia das mulheres rurais. As palestras foram proferidas pela
nutricionista e consultora da Secretaria Estadual de Política para as Mulheres,
Mirella Dias Almeida, e pela engenheira de Alimentos, Simone Sampaio, que
abordou temas importantes como a legislação referente às cozinhas comunitárias,
as áreas que compõem a cozinha, instalações prediais, doenças transmitidas por
alimentos, manipulação de alimentos e aspectos relacionados à higiene e
segurança.
Estiveram presentes representantes do
Escritório Regional da CAR de Itabuna, da EBDA de Ibicaraí, Camacan e Souto
Soares, e representantes do IFBA (Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia da Bahia).
Karoline Meira
CAR - Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional
Assessoria de Comunicação
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