Cerca de 1,5 milhão de adolescentes e adultos consomem maconha diariamente no Brasil, aponta o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ainda de acordo com o estudo, divulgado nesta quarta-feira (1º), em São Paulo, mais de 3 milhões de adultos, com idade entre 18 e 59 anos, usaram maconha no último ano e cerca de 8 mihões de adultos (7% dessa parcela da população) já experimentaram maconha alguma vez – 62% do total teve o primeiro contato com a droga antes dos 18 anos.
Quanto aos adolescentes, 470 mil revelaram que fizeram uso de maconha no último ano e 600 mil disseram já ter experimentado a droga alguma vez na vida.
Essa é a segunda pesquisa da Unifesp sobre o tema – a primeira foi em 2006 –, mas é a primeira vez que se tem uma amostragem representativa da população brasileira sobre uso e dependência de drogas e sobre a questão da legalização.Em 2006, havia um adolescente pra cada adulto usuário de maconha. Essa proporção agora é de 1,4 adolescente por adulto. A diferença é que o retrato anterior foi feito apenas nas escolas, entre estudantes.
Entre janeiro e março, foram ouvidas 4.607 pessoas, com idade mínima de 14 anos, em 149 municípios de todos os estados do país.
Cem entrevistadores visitaram as casas dos participantes, que viviam em locais que iam desde favelas até condomínios fechados – estes últimos, os lugares de mais difícil acesso, de acordo com os autores. Foi entregue aos voluntários um questionário com 800 perguntas, que respondiam e entregavam o documento lacrado, mantendo o anonimato e uma maior confiabilidade das respostas.
As perguntas, segundo os pesquisadores da Unifesp, seguiram metodologias internacionais e também abordaram questões sobre álcool, tabaco e outras drogas ilícitas além da maconha. Em breve, a universidade vai divulgar dados sobre o uso de cocaína, crack e oxi no Brasil.
Sobre a legalização da maconha no Brasil, 75% dos entrevistados se disseram contrários à proposta. Outros 11% apoiam a causa, 9% não souberam responder e 5% não responderam.
De acordo com psiquiatra Ronaldo Laranjeiras, professor da Unifesp e um dos organizadores do levantamento, o estudo está próximo de um "plebiscito" sobre a proposta de descriminalizar o consumo da maconha no país.
"Há quase 500 mil adolescentes usando maconha regularmente. Isso dá uma visão do tamanho do problema (...) e há um impacto do ponto de vista de saúde pública, desemprego e suicídio", explica.
Laranjeiras comentou ainda que, desde 2006, com a mudança da lei para despenalizar o uso de drogas, é possível que tenha ocorrido um aumento no consumo de maconha. Para ele, houve uma "frouxidão legislativa", que alterou a figura do usuário e impediu a pena de prisão com novas sanções alternativas.
"Os países com menor consumo de maconha, como Suécia e Japão, têm mais rigor e restrições. A solução não é colocar os usuários na prisão, mas nesses lugares há uma certa intolerância com o consumo. Ou vamos por esse caminho ou liberamos e aumentamos o uso. Será que a minoria vai determinar e pautar o que a gente quer como sociedade?", questionou.
De acordo com o pesquisador, um cigarro de maconha no país custa R$ 1. Se houver a liberação, ele acredita que o mercado ficará facilitado e o preço, mais baixo.
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