8 de fevereiro de 2012

Revista Veja: Policiais do Rio ameaçam entrar em greve na sexta-feira


No momento em que a greve em Salvador atinge sua tensão máxima, policiais e bombeiros do Rio de Janeiro ameaçam cruzar os braços na próxima sexta-feira – a uma semana do carnaval e em um período em que a cidade está repleta de turistas. Assim como na Bahia, o que está em jogo no Rio é um impasse nas negociações sobre reajuste de salários. Representantes de três categorias estão em contato permanente para articular os próximos passos da manifestação. Bombeiros e policiais civis e militares definirão na quinta-feira, em uma assembleia na Cinelândia, no Centro do Rio, se entrarão em greve- apesar de isso já ser dado como certo pelas lideranças. O objetivo dos manifestantes será o de levar 100 mil pessoas à praça, usando, para isso, famílias dos servidores.



Nesta terça-feira, viaturas da PM fluminense entregaram, em delegacias da Polícia Civil, cartazes impressos em papel tamanho A4 convocando para a assembleia do dia 9, às 18h. "Juntos somos fortes", diz o cartaz, que tem, nesta frase, as letras "O" substituídas por emblemas das três instituições (bombeiros, PM e Polícia Civil).



Uma comitiva com bombeiros e policiais civis viajou nesta terça-feira para a Bahia com o objetivo de encontrar com os manifestantes de Salvador. Entre os líderes do Rio, desembarcou em Salvador o cabo Benevenuto Daciolo, do Corpo de Bombeiros, principal autor da série de protestos ocorrida em 2011. A onda vermelha no estado teve como seu primeiro ato a invasão ao Quartel General. A partir daí, ocuparam as escadarias da Alerj, onde passou a ser um ponto de resistência. “Eles (policiais baianos) nos ligam todos os dias”, diz cabo Laércio Soares, do Grupamento Marítimo dos Bombeiros, que também esteve à frente dos movimentos da corporação por aumento salarial, em 2011. A garantia dada pelas lideranças fluminenses é de que ninguém pegará em armas e não serão repetidas ações como a invasão de prédios públicos – como houve no ano passado. “Somos mansos, pacíficos e ordeiros. Não iremos buscar confronto, mas dignidade”, afirma Laércio.



A rede de comunicação entre os militares ultrapassa a rota Rio-Bahia. Espírito Santo, Brasília e Ceará também fazem parte da teia de apoio. E às lideranças do Rio de Janeiro chegou a informação de que os brasilienses também pensam em entrar em greve ainda esta semana. O que une os policiais em interesse, mas ainda não em um movimento efetivo de reivindicação, é a PEC 300, que prevê equiparação salarial com os militares de Brasília - o maior valor do Brasil. Os manifestantes já cogitam a articulação de uma entidade nacional para expandir os protestos.



Bombeiros reuniram-se com o Batalhão de Operações Especiais e com o Batalhão de Choque da PM para tratar da greve. A informação passada pelos organizadores da greve é de que as duas forças especiais estão preparadas para aderir ao movimento. “Serviços essenciais serão mantidos. Mas não garanto os 30% (do efetivo). Acredito em 90% em greve e só com serviço essenciais”, afirma Laércio. Já o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Rio (Sinpol), Fernando Bandeira, assegura que os 30% do efetivo serão mantidos durante a greve. As atenções da polícia estarão voltadas, sobretudo, para casos mais graves, como flagrantes, sequestro e investigações de homicídios. “Não queremos a greve pela greve. Queremos que o governo venha conversar conosco”, afirma Bandeira.





Para acalmar a população, o secretário afirmou haver mais de um plano de contingência para o caso de os policiais cruzarem os braços na sexta. “O compromisso da secretaria de Segurança é o interesse público, a paz e a manutenção da ordem. Que a sociedade fique tranquila porque temos mecanismos para prover o que é nossa obrigação”, assegurou.





A Polícia Civil pede vinculação do salário dos servidores ao do delegado, plano de saúde, incorporação da gratificação ao salário e redução das parcelas do reajuste, que seria escalonado até 2014, pelo plano de recomposição salarial dos bombeiros. “Quem trabalha nas delegacias legais recebe gratificação de 850 reais. Se o policial sair de lá, perde esse bônus. Hoje, cerca de 40% dos policiais civis recebem essa gratificação e não quer se aposentar para não perdê-la. Há policiais que se aposentam e vão fazer bico aos 70 anos”, argumenta Bandeira.



A aproximação da data marcada pelos sindicatos para a paralisação dos policiais pôs a cúpula da segurança e o próprio governador Sérgio Cabral em alerta. Ao longo da semana, Cabral expôs, em suas aparições públicas e por sua assessoria, os números do reajuste de salário de policiais desde que assumiu o Palácio Guanabara, em 2007. Considerando os aumentos previstos em 2012 (12%, já antecipado pelo governo do estado) e 2013 (24%), o governo do estado chega a um reajuste total de 107% desde o início da era Cabral. O Palácio Guanabara também expõe as despesas com pessoal na PM fluminense, que eram de 916 milhões de reais/ano em 2006 e chegam a 2012 com 2,3 bilhões de reais – aumento de 158%. É preciso considerar, no entanto, que o número de PMS também cresceu, repartindo o bolo.







Fonte: Veja Online


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