Técnicos do TSE apontaram 23 supostas inconsistências nas contas da
campanha eleitoral do presidente eleito. Entre os gastos sob suspeita estão
despesas com advogados e gráficas.
O ministro Luis Roberto Barroso durante sessão extraordinária no
Tribunal Tribunal Superior Eleitoral — Foto: Fátima Meira/Futura Press/Estadão
Conteúdo
O ministro Luís Roberto Barroso, do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), intimou nesta terça-feira (13) a campanha do presidente eleito, Jair Bolsonaro, a prestar esclarecimentos, em até três dias,
sobre 23 "inconsistências" na prestação de contas do presidente eleitoapresentada na
última sexta (9).
As supostas irregularidades foram apontadas por técnicos da Assessoria
de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias (Asepa) do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
Relator no TSE das contas de campanha, Barroso terá que submeter o
procedimento a julgamento no plenário do tribunal eleitoral. Ainda não há data
marcada para a Corte analisar o caso.
A diplomação de Bolsonaro está marcada para o dia 10 de dezembro. Para
receber o diploma, os candidatos eleitos precisam estar com o registro de
candidatura deferido e as contas de campanha julgadas – não necessariamente
aprovadas.
Os técnicos do TSE apontaram 23 "inconsistências" que envolvem
indícios de impropriedade (erro formal ou dados inexatos) e indícios de
irregularidade (suspeitas na prestação), além da falta de documentos e pediram
que a campanha enviasse mais documentos, como contratos e comprovações de
serviços e gastos.
Barroso considerou "pertinentes" os pedidos e notificou a
campanha a apresentar os esclarecimentos.
"São pertinentes as diligências propostas pela Assessoria de Exame
de Contas Eleitorais e Partidárias . Diante do exposto, determino a intimação
do candidato Jair Messias Bolsonaro, [...] para, no prazo de 3 (três) dias,
complementar dados e documentação e/ou prestar esclarecimentos /
justificativas, com vistas ao saneamento dos apontamentos", diz trecho da
decisão.
Prestação de contas
Segundo o extrato final da prestação de contas, a campanha de Bolsonaro
arrecadou R$ 4.377.640,36. Foram gastos R$ 2.812.442,38, dos quais R$
2.456.215,93 foram efetivamente pagos.
As sobras de campanha somam R$ 1.565.197,98 - Bolsonaro afirmou nesta
semana que irá doar as sobras para a Santa Casa de Misericórida de Juiz de Fora
(MG), onde foi atendido após ser esfaqueado em 6 de setembro.
Veja um resumo dos 23 questionamentos apontados por técnicos do TSE nas
contas de Bolsonaro:
Despesas com mídias digitais com
empresa Adstream - R$ 6.260,00 - pedem números de notas fiscais;
Despesas com serviços
advocatícios com empresa Kufa Sociedade de Advogados - R$ 50.000,00 - pedem
detalhamento dos serviços prestados, relação dos processos em que escritório
atuou, relação de todos os advogados que atuaram;
Despesas com serviços contábeis
não foram declaradas, mas aparece como serviço do escritório de advocacia -
pedem dados sobre serviços contábeis prestados, identificação dos contadores;
Despesas com material impresso
com quatro empresas - R$ 71.000,00 - pedem amostras dos materiais produzidos,
como adesivos, paineis e bótons e também informações sobre se essas empresas
subcontrataram outras empresas.
Devolução de receitas - R$
95.000,00 - Campanha avisa que devolveu R$ 95 mil em doações para quatro
pessoas físicas e técnicos dizem que, como não há previsão para devolução de
doações legais, qual motivo de o candidato se recusar a receber os valores;
Financiamento coletivo com
empresa sem registro - R$ 3,5 milhões - técnicos afirmam que a empresa AM4 não
tinha cadastro para prestar serviços de arrecadação por meio do financiamento
coletivo e pedem também detalhamento sobre as empresas Aixmobil e Ingresso
Total, que também atuaram com arrecadação por meio de financiamento coletivo,
as "vaquinhas";
Descumprimento de prazo para
entrega de relatório com receita de R$ 1,566.812,00;
Indício de irregularidade no
recebimento de doações do fontes proibidas, permissionários - R$ 5.200,00 -
técnicos apontam que lei proibido recebimento de recursos de quem tem atividade
decorrente de permissão pública;
Indício de irregularidade no
recebimento de recursos com origem não identificada - R$ 100;
Indício de irregularidade de
doações recebidas com divergência na identificação dos doadores - R$ 5.030,00 -
divergências de dados informados dos doadores com base de dados da Receita
(Nome do doador não bate com o CPF cadastrado na Receita);
Indício de impropriedade na
divergência de informações de doações indiretas - R$ 345.000,00 - técnicos
informam que repasse da campanha de Eduardo Bolsonaro para o pai;
Indício de irregularidade com
ausência de gastos eleitorais na prestação de contas parcial 0 R$ 147.727,02 -
gastos que não foram prestadas dentro do prazo correto;
Indício de irregularidade na
omissão de despesas - R$ 147.948,81 - técnicos dizem que cruzamento de dados
mostrou que fornecedores informaram gastos omitidos pela campanha;
Indício de irregularidade com
divergência de informações em doações - R$ 3.796,86 - doadores informaram
maiores valores em relação ao declarado pelo candidato;
Indício de irregularidade - R$
20.958,16 - técnicos apontam omissão de doações no cruzamento de informações
com outros prestadores;
Indício de irregularidade com
dinheiro de sobra de campanha transferido a outro partido - R$ 10.000,00 -
técnicos apontam repassem ao PRTB, quando lei só permite que tivesse sido
repassado ao próprio PSL;
Indício de irregularidade com
falta de documentos de comprovação de doações estimáveis (destinação de espaços
ou trabalho) - R$ 6.913,60 - falta de documentação de espaço cedido ou outros
serviços doados;
Indício de irregularidade em
doações estimáveis que não constavam na prestação parcial - R$ 24.916,83 -
técnicos apontam que os valores não foram lançados no devido tempo, como prevê
resolução;
Indício de irregularidade em
doações estimaveis que não constavam na prestação parcial - R$ 2.511,54 -
técnicos apontam que medida frustra transparência e fiscalização;
Indício de impropriedade -
divergência na data de abertura de contas bancárias;
Ausência de recibo eleitoral em
arrecadação de recursos estimáveis (trabalho voluntário e outros);
Falta de documentação nas
despesas, como contratos e relatórios de serviços prestados por várias
empresas;
Indício de irregularidade no
recebimento indireto de recursos - R$ 100 - doação não identificada por meio de
vaquinha virtual recebida por meio do partido e que deveria ter sido recolhida
ao Tesouro.
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