"Vou
estar lá representando a comunidade", disse ao G1 a estudante baiana Geórgia
Gabriela da Silva Sampaio, selecionada em um programa da
Universidade de Harvard que incentiva projetos inovadores de
empreendedorismo social. Geórgia mora em Feira de Santana, cidade localizada a
cem quilômetros de Salvador.
O objetivo
da pesquisa da jovem é criar um método mais barato, por meio de exame de
sangue, para diagnosticar a endometriose, doença caracterizada pela presença do
endométrio, tecido que reveste o interior do útero, fora da cavidade uterina.
Segundo a
estudante, a idéia da pesquisa surgiu quando uma tia foi diagnosticada com a
doença e precisou retirar o útero. "Minha tia teve endometriose há três
anos e precisou tirar o útero, e eu comecei a pesquisar porque uma outra tia
minha apresentou características da doença e minha mãe também. Imaginei que
fosse hereditário e comecei a pesquisar. Ligando um artigo a outro, vi que ela
[a tia] só retirou o útero porque descobriu a doença muito tarde. Se ela
soubesse antes, não precisaria fazer a cirurgia. Isso me motivou a desenvolver
o método", explica.
Com a
aprovação, Geórgia participará de uma conferência em Harvard e irá expor seu
projeto para investidores de todo o mundo, além de conhecer a universidade.
"Minha maior expectativa é dar continuidade ao projeto. Quero que se
interessem. Cada um pode sair com um patrocinador ou mais. Espero sair com pelo
menos um", diz Geórgia.
Antes de ser
premiada no programa da universidade norte-americana, a jovem de 19 anos já se
destacava nos estudos, tendo passado inclusive em quatro vestibulares. O
primeiro ela fez quando ainda era do segundo ano do ensino médio, e passou em
Engenharia Civil, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
"Quando
terminei o terceiro ano, fiz outro vestibular para Engenharia Elétrica na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No final do ano fiz novamente a
prova da UEFS, mas escolhi Engenharia da Computação e Engenharia Eletrônica.
Passei, mas meu sonho maior é estudar em Harvard", explica a estudante.
Ela conta
que, apesar da família não ter muito dinheiro, conseguiu estudar sempre em
colégios particulares, graças ao apelo dos pais junto às instituições de ensino
que ela freqüentava. "Sempre gostei de estudar, e meus pais não tinham
condições de pagar uma escola particular, então eles pediam bolsas para que eu
pudesse freqüentar as aulas", conta.
Geórgia mora
com os pais e a irmã de oito anos em um bairro popular de Feira de Santana,
chamado 35° BI. Segundo o pai da menina, o comerciante Jorge Luiz, todos sentem
falta de Geórgia por causa do tempo que ela dedica aos estudos. O comerciante
conta que até os outros quatro filhos que ele teve em um casamento anterior, e
que não moram com ele, "reclamam" por não verem a menina
constantemente. Entretanto Jorge Luiz destaca que a caçula é a que sofre mais.
"A pequena fica falando: 'poxa meu pai, ela estuda demais, estou com
saudades dela'", relata.
Sidney da
Silva, mãe de Geórgia, revelou que a dedicação é tanta, que uma vez ela passou
o ano novo no quarto estudando. "Ano passado estávamos no réveillon em
Salvador, e quando deu 23h40 chamamos ela: 'Vem minha filha, vai dar
meia-noite'. Mas ela estava estudando e disse: 'Meia noite tem todo dia'",
conta.
Para Jorge
Luiz, todo tipo de esforço voltado para educação da filha é válido. "A
gente entende que ela está estudando, e às vezes a gente sente falta, né? Se
precisar, a gente troca um pouco da nossa felicidade pela dela. Colocamos as
coisas em dez vezes no cartão, se a gente tem 30 dias de férias, tiramos só 10
para acompanhar ela", explica.
Contudo,
para Geórgia, a dedicação aos estudos valeu à pena. A conquista da participação
no programa da universidade americana deixou a jovem entusiasmada, já que ela
sonha em conseguir uma vaga para estudar em Harvard. "Ainda não estou
acreditando que aconteceu. Meu sonho maior é estudar em Harvard, e fora do
Brasil posso fazer duas áreas ao mesmo tempo. Agora eu preciso fazer o processo
de inscrição da universidade, que termina em 1° janeiro", revela.
Pesquisa
Foram 80 inscritos no programa "Village to Raise a Child", de Harvard, que busca identificar cinco jovens empreendedores que façam a diferença na comunidade em que vivem.
Foram 80 inscritos no programa "Village to Raise a Child", de Harvard, que busca identificar cinco jovens empreendedores que façam a diferença na comunidade em que vivem.
Puderam
participar estudantes do ensino médio que tinham projetos em qualquer área,
desde que contribuíssem para o desenvolvimento de sua região e buscassem
solucionar problemas locais.
Além de
Geórgia, outra brasileira também de 19 anos, do Rio Grande do Sul, e três
estudantes do Nepal, Filipinas e Sri Lanka tiveram os projetos escolhidos pelo
programa de Harvard.
A estudante
conta que a pesquisa teve como base a leitura de artigos na internet e ajuda de
um professor de biologia. Ela explica ainda que a produção dos textos passou
por revisão de amigos. "Peço aos meus amigos para lerem e observarem se há
erros. Preciso da ajuda deles também", conclui.
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