Os eleitores
uruguaios vão às urnas neste domingo no primeiro turno das eleições
presidenciais, com as atenções voltadas para o próprio país e para o resultado
do segundo turno no Brasil.
Nos últimos
dias, o presidente José "Pepe" Mujica, de 79 anos, prestes a deixar o
cargo, enfatizou a importância da eleição brasileira para seu país.
"O
resultado da eleição deste domingo no Brasil tem tanta ou mais importância que
o resultado eleitoral no Uruguai. É um fato determinante (para o Uruguai e a
região)", disse Mujica, segundo a imprensa local.
E a mídia
uruguaia, assim como a dos demais países da América do Sul, tem dedicado amplo
espaço à campanha eleitoral brasileira, num sinal de máxima atenção ao que
ocorre no país mais populoso e com a maior economia regional.
Para Mujica e
para políticos e analistas ouvidos pela BBC Brasil, a eleição no Brasil
definirá o "rumo" da América Latina, e principalmente da América do
Sul.
Mujica tem
boas relações com a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), e o uruguaio
teria dito, segundo interlocutores, que uma eventual vitória de Aécio Neves
(PSDB) "seria um desastre".
No entanto,
analistas ouvidos pelo jornal uruguaio El Observador apontaram que Montevidéu
poderia ver vantagens em qualquer que seja o presidente eleito neste domingo no
Brasil.
"Dilma
reforçará o Mercosul e tem bom diálogo com o Uruguai", diz o jornal.
"Aécio já adiantou que levará o Brasil a se abrir ao mundo, algo demandado
tanto pela Frente Ampla (coalizão governista do Uruguai) quanto pela
oposição."
Reportagem do
jornal El País, da capital uruguaia, apresenta argumentos semelhantes.
"Enquanto a atual presidente (brasileira) fala em fortalecer o Mercosul,
Aécio Neves pretende modificar as normas que impedem os sócios do bloco de
negociar acordos comerciais de forma individual, como pede o Uruguai."
'Aliança pragmática'
"Houve uma aliança política pragmática entre os governos do Uruguai e do Brasil nos últimos tempos, o que permitiu resultados concretos como acordos na área de infraestrutura, como energética", disse à BBC Brasil o professor de história e cientista político Gerardo Caetano, da Universidade da República.
"Houve uma aliança política pragmática entre os governos do Uruguai e do Brasil nos últimos tempos, o que permitiu resultados concretos como acordos na área de infraestrutura, como energética", disse à BBC Brasil o professor de história e cientista político Gerardo Caetano, da Universidade da República.
Nos últimos
dez anos, segundo dados oficiais, o comércio bilateral aumentou quase 400% e o
Brasil está entre os principais investidores diretos no Uruguai, apesar de ter
perdido recentemente para a China o título de maior exportador para o país
vizinho.
Com 3 milhões
de habitantes, o Uruguai é o menor país do Mercosul - bloco que conta ainda com
Argentina, Paraguai e Venezuela -, o que explica a grande preocupação com os
rumos adotados pelo sócio maior, o Brasil.
O senador
governista Luis Gallo, da Frente Ampla, afirmou que ter o Brasil como
"aliado" fortalece seu país.
"Uma
coisa é o Uruguai sentar sozinho em uma mesa de negociação internacional e
outra é estar com o Brasil. Além disso, o que ocorre no Brasil acaba
influenciando toda a região. Nós estamos indo bem e queremos continuar
assim", disse Gallo.
O pleito uruguaio
No primeiro turno uruguaio, que será realizado neste domingo, os principais candidatos, segundo as pesquisas de opinião, são o ex-presidente Tabaré Vázquez, da base governista Frente Ampla, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, e Pedro Bordaberry, do Partido Colorado.
No primeiro turno uruguaio, que será realizado neste domingo, os principais candidatos, segundo as pesquisas de opinião, são o ex-presidente Tabaré Vázquez, da base governista Frente Ampla, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, e Pedro Bordaberry, do Partido Colorado.
Lacalle Pou e
Bordaberry são apontados pelos analistas como "parecidos" a Aécio
Neves, pelas propostas que apresentaram até agora, principalmente na área de
política externa.
Segundo
Caetano, Tabaré e Dilma manteriam a "sintonia" que existe entre Dilma
e Mujica.
O historiador
afirmou ainda que pesquisas de opinião costumam mostrar que "o Brasil e os
brasileiros são o país e o povo mais querido pelos uruguaios", num, sinal,
entende, da "forte influência" do Brasil no país – o Uruguai foi
província cisplatina entre 1817 e 1825 durante o reinado de Portugal, Brasil e
Algarve (depois chamado Império do Brasil).
Analistas e
políticos uruguaios de diferentes tendências apontam ainda a maior aproximação
política do governo uruguaio com o governo brasileiro especialmente após as
diferenças públicas vividas entre o Uruguai e seu tradicional sócio político e
econômico, a Argentina.
As diferenças
ocorreram principalmente na época do ex-presidente Néstor Kirchner (2003 e
2007), quando uma ponte entre os dois países foi bloqueada em um protesto dos
argentinos contra uma fábrica de pasta de celulose às margens do rio que
compartilham, o Uruguai.
"Os dois
governos, Uruguai e Brasil, acabaram ficando ainda mais próximos", disse
uma fonte do governo brasileiro.
Fonte: O Globo-
Marcia CarmoDe Buenos Aires para a BBC Brasil
Marcia CarmoDe Buenos Aires para a BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário