6 de junho de 2013

Lideranças quilombolas participam de intercâmbio de Agroecologia em Arataca



No dia em que foi comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, lideranças quilombolas de nove territórios de identidade da Bahia se reuniram com integrantes do assentamento Terra Vista, no município de Arataca, Litoral Sul da Bahia, com o objetivo de conhecer o modelo de agroecologia utilizado no local, que é referência sobre o assunto.
Estiveram presentes representantes dos Territórios Recôncavo, Extremo Sul, Vitória da Conquista, Sertão Produtivo, Chapada Diamantina, Velho Chico, Irecê, Baixo Sul, Piemonte Norte do Itapicuru e Agreste de Alagoinhas. A ação foi realizada pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa da Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), através do projeto Quilombolas.
Segundo o coordenador da Cooperativa de Produção Agropecuária do Terra Vista, Joelson Ferreira, o terreno onde está localizado o assentamento era improdutivo e degradado. “Foi a partir da junção de esforços que permitiu que criássemos toda essa área de produção e reflorestamento. Há 12 anos trabalhamos a questão da agroecologia aliada a educação, pois não basta apenas plantar um pé de árvore, tem que entender o sistema. Este é o modo de vida que escolhemos”, disse.
As lideranças quilombolas ouviram a história e conheceram as ações desenvolvidas no assentamento, como as áreas de produção de cacau de alta qualidade e de sistema agroflorestal e também o viveiro, e ficaram encantados.
Marilucia Souza Silva, liderança do Território Velho Chico, afirmou que sua vontade é que todos de sua comunidade pudessem conhecer o local. “É importante que todos pudessem ter uma visão mais ampla. Um lugar sem matanças e sem queimadas é uma riqueza”.
Joelson ressaltou que a principal arma é o conhecimento. “Para dar certo tem que unir o saber de quem lida com a terra com a educação técnica. Temos que formar os cidadãos para que eles entendam o porque de preservar”.
De acordo com o coordenador do Conselho do Território do Extremo Sul, Benedito dos Santos Quintiliano, o intercâmbio foi muito importante, pois além da troca de experiências entre as comunidades, eles puderam conhecer como vive e como se organiza outro movimento. “Até certo tempo, nós quilombolas, buscávamos resolver nossas questões com a própria comunidade, mas a partir de interações como essa percebemos que temos interesses muito semelhantes a outros grupos e que, dessa forma, temos uma só luta”.
Ainda segundo Benedito, o resultado do encontro foi muito positivo. “A vontade é sair daqui e replicar o que vimos e ouvimos na nossa comunidade. Um lugar que serve como exemplo, em que as pessoas buscam a agricultura familiar ecologicamente sustentável como forma de qualidade de vida”.
O coordenador do projeto Quilombolas Antônio Fernando, que também esteve presente no evento, disse que é importante que povos e comunidades tradicionais construam junto a movimentos autônomos de trabalhadores rurais, construindo alternativas de articulações que muitas vezes não ocorrem ao nível institucional. “Esse deve romper no âmbito da agroecologia com a visão meramente produtivista”.
Terra Vista                                                  
As práticas de manejo fazem do assentamento Terra Vista uma referência em agroecologia, onde desde o ano de 2000 já foram plantadas mais de 100 mil mudas produzidas no local, fazendo com que cerca de 90% da mata ciliar dos rios Aliança e Lontra que passam pelo local já foram recuperadas.
Cinquenta e cinco famílias moram no assentamento e é da terra que tiram seu sustento cultivando produtos sem o uso de agrotóxicos. Do trabalho com a terra veio a experiência, mas com o conhecimento é que fez com que adquirissem o modo de lidar com o meio ambiente.
Dois centros educacionais funcionam no assentamento, oferecendo cursos do ensino fundamental, profissionalizantes e de nível superior com enfoque na agroecologia. As atividades educacionais no Terra Vista são em parceria com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária e com o Governo do Estado.
O Terra Vista conquistou, em 2012, a certificação orgânica do Instituto Biodinâmico (IBD) para a produção cacaueira. Além disso, os viveiros também são certificados e constam no cadastro do Mapa.

Texto: Karoline Meira

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